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Ciúmes de Mãe ( Texto de outra blogueira )

Minha filha menor, de 2 aninhos, já me chamou pelo nome da babá, para se consertar em seguida e falar “mamãe”. Um dia ela me olhou com cara de sapeca e pôs-se a explicar.
“Você não é a minha babá?”
“Não”
“Você é minha mamãe?”
“Isso, sou a sua mamãe”.
Alguma coisa naquele olhar de dúvida cor de jabuticaba me dizia que a criança estava me provocando, por trás de toda aquela inocência, havia uma criaturinha tentando me provocar. Congela a cena. Voltemos uns 5 anos no tempo, quando minha primeira filha não tinha nem um ano.
Certa manhã, ela resolveu que só sairia do berço no colo da babá (outra babá) e se recusou a vir comigo. Insisti um pouquinho. Não adiantou. Sabe quando a bigorna cai na cabeça do coiote e o papa-léguas foge? Pois é. Primeiro, o susto, depois o ciúmes, o medo irracional de perder a preferência incondicional que ela tinha por mim, sua mãe, a fonte de alimento, o pólo magnético, o útero que lhe deu abrigo por 9 meses e lá vai fumaça. Amigos e amigas, fiquei mal. Mas disfarcei, abafei o cataclisma e ninguém viu o que se passou dentro de mim naqueles minutos de aflição. Só eu sei o quanto aquilo doeu em mim, e o quanto incomodariam depois cenas semelhantes com aquela e outras babás. Porque vem babá, vai babá, a criança se encarregará de fazer pelo menos uma, uma única ceninha demolidora.
Voltemos à cena congelada. Trocar o nome não é nada. Ela também já cismou que só fazia xixi com a babá e agora posso me felicitar por encarar com absoluta normalidade esse tipo de coisa. É o senhor tempo amadurecendo a mãe  (e o segundo filho fazendo calos no coração).
Aviso aos marinheiros de primeira viagem que aquela cena de não sair do berço com mamãe, só com a babá, também pode acontecer eventualmente nas versões “hora do banho“, “hora de comer“, “hora de brincar“, “hora de ir ao banheiro“ e “hora de pentear o cabelo“.
A mais velha passou por fases de não me deixar fazer penteados, de jeito nenhum. Era um deus-nos-acuda botar presilha, elástico, tiara…Até que chegou o dia em que, voltando do trabalho, encontrei a filha na versão rastafari, tantas eram as trancinhas penduradas. Tirei foto e batizei de “o acinte“.
Nossos filhos estabelecem vínculos com as pessoas que os cercam, especialmente com os cuidadores. Ele se sentirá feliz com ela. Pedirá colo. Sorrirá. Isso pode ser um problema sério quando estamos ainda fragilizadas pelo hormônio da amamentação, que costuma nos deixar vulneráveis emocionalmente e provocar reações idiotas (sério, isso é científico, embora não seja descrito nos estudos com essas palavras fortes usadas aqui).
Antes de pensar em dar adeus ao mundo cruel, reflita comigo. O vínculo entre você e seu filho ficou ameaçado assim…pra valer? O laço família está resguardado pelo amor, pela atenção e por tudo o que pai e mãe representam na vida dos filhos, quando eles estão lá, pra valer.
Aquela criança do berço cresceu. Agora, quando eu conto para ela que mãe também tem ciúmes do filho, ela ri e me olha espantada. “Sério mesmo?“. “Sim“, eu respondo. “Como você acha que eu me sentia quando você cismava de não fazer alguma coisa comigo? Eu achava que você não gostava de mim!“, disse, exagerando no conteúdo e na entonação para ela rir. Com aquela cara de quem achou incrível, um dia, ela ter feito isso comigo, me respondeu: “ah, mamãe, eu adoro você“.
Por isso, quando minha caçulinha sapeca trocou o meu nome pelo da babá, eu apenas sorri do ato-falho. Essas cenas nos ajudam a encarar o óbvio: por mais que nos façamos disponíveis, não somos onipresentes.  Há outras pessoas gravitando em torno das nossas crianças, de preferência com carinho e atenção. Ter o nome trocado faz parte, não se preocupem, mas eu cheguei a dizer que isso dói em algum lugar bem escondido dentro de mim?
ILUSTRAÇAO: CORA RIBEIRO
Isabel Clemente é editora-assistente de ÉPOCA em Brasília.

Em outro post vou fazer uma análise desse texto !!! rs

1 comentários:

Luisa Morosini / Luly disse...

tbm sentiria muuuuito ciumes se minha filha fizese isso!
aguardo pelo analise! hehe.
bjs.